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Ex-embaixador em Washington, o diplomata Rubens Barbosa considera que as diretrizes da política externa continuam as mesmas, mas sem o apetite da Era Lula. Confira trechos de entrevista a ZH.
Zero Hora – A troca de chanceleres trouxe mudanças na política externa?
Rubens Barbosa – Os principais aspectos não mudaram com a troca de ministros. A interferência externa no Itamaraty continua. As principais linhas têm enorme influência da Presidência da República.
ZH – Como o senhor vê a posição do Brasil na crise da Venezuela?
Barbosa – O Brasil até agora tem se escudado no Mercosul e na Unasul. As notas foram muito pró-Venezuela. O Brasil poderá dar o tom nas reuniões da Unasul, mas o bloco tem posição favorável ao governo venezuelano. O país deveria adotar uma posição mais proativa, na tentativa de reduzir os arranhões aos direitos humanos que acontecem na Venezuela.
ZH – Essa mesma posição mais discreta do Itamaraty foi notada na crise entre Ucrânia e Rússia, não?
Barbosa – Lá, a situação é mais complicada. O Brasil é membro dos Brics e tem aproximação grande com a Rússia do ponto de vista político. Mas o país tinha de ter uma posição igual à da China e da Índia. Assim como o Brasil, os dois países se abstiveram na votação do Conselho de Segurança, mas fizeram declarações favoráveis ao diálogo. Ninguém vai pensar que o Brasil vai votar contra a Rússia, mas podia ter se pronunciado na linha do diálogo. Os EUA estão fazendo isso agora. O Brasil poderia ter feito antes.
ZH – Em relação ao governo Lula, houve alguma mudança?
Barbosa – No começo do governo Dilma, achei que havia uma diferenciação mais forte. Depois de quatro anos, vejo que as mudanças foram poucas. O Brasil se retraiu. As grandes mudanças que vejo foram a postura com o Irã e a falta de apetite para ter uma participação no cenário internacional. Hoje, não há nenhum protagonismo do Brasil, diferente do governo Lula.